domingo, 4 de abril de 2010

Transposição, um sonho virando realidade


Tenho recebido mensagens, e-mails, telefonemas, aos montes! A maior parte dessa correspondência é de pessoas que chamo de “suspeitas”, dada a generosidade delas e o fato de sermos mútuos admiradores; brinco dizendo-lhes que, por isso, não valem os elogios delas mas, na verdade, me conforta muito recebê-los, quando se referem à convicção que tenho de que o Projeto de Integração e Revitalização do Rio São Francisco está em marcha, vai ser concretizado, é irreversível. O que mais eu poderia desejar? Aqueles aos quais estimo, dadas suas elevadas qualificações pessoais, profissionais, vencedores, pais e mães de família exemplares, patriotas, esforçados incansáveis, enfim, titulares de virtudes morais e cívicas, reconhecem que meu apego à verdade da transposição de águas do São Francisco para o semi-árido do Nordeste setentrional é digno da admiração deles; então, caro leitor, é impossível negar: tais demonstrações de pura amizade me fazem um homem feliz!

Só espero merecer presenciar o escorrer miraculoso das águas do “Velho Chico” por muitos riachos e rios não perenes dos nossos cariris e sertões ressequidos, (como, por exemplo, o querido Rio Paraíba e os demais da malha contemplada pelo Projeto), tornando-os definitivamente esteiros do São Francisco! Isto, será uma ventura! Há séculos, tal panorama era do reino dos sonhos, do impossível; agora, está virando realidade!

Tenho lembrança de cenas que ainda hoje me arrasam emocionalmente, por terem sido reais... Vou tentar evocar duas delas, pagando o preço do pranto copioso: ... um menino pobre, magrinho, (cuja pele dos braços e cabeça cobertas de pêlos e cabelos loiros, - lembrava uma espiga nova de milho que não vai vingar - ... por falta de umidade), agachado no terreiro do mísero casebre onde ainda vive, concentrado, brincando com uns 10 ou 12 ossos regulares, (restos de carniças de várias rezes que morreram de fome e de sede...). Enfileirados, esses ossos brancos representam o gado que ele viu por algum tempo e diz: “Vamo Canário, bora Moreno; hei, hei Pretinha, pra cá , pra cá.....êêêboi; vamo lá....... beber águ.......” Fico por aqui, caro leitor. A outra cena fica para outra oportunidade: chorar é bom, mas desse jeito dói.

O que eu quero dizer é que nenhum patife tem o direito de ser contra a Transposição de águas do Rio São Francisco para o semi-árido do Nordeste (NE) setentrional, onde fatos como aquele não são “coisa rara”; ao contrário, vêm acontecendo a centenas de anos, neste País, que pode perfeitamente combater o problema de maneira eficiente, fácil, definitiva, em favor de milhares de famílias de irmãos nossos, sertanejos e “caririzeiros”, que não merecem nascer e morrer à míngua de água, como vem ocorrendo, geração após geração. Não precisa ser sábio; basta olhar para o mapa do Brasil e conversar com alguém, pessoa honesta, que conheça o Projeto para constatar: o “Velho Chico” não precisava chegar a Juazeiro e Petrolina para depois virar à direita e sair correndo para o mar! Ali da Serra da Canastra, onde nasce, para o Espírito Santo é um pulinho e lá está o Oceano Atlântico, no qual ele só veio entrar depois de dividir Alagoas e Sergipe!!!.

É preciso interpretar assim: o Rio São Francisco, com este nome abençoado, como que se OFERECE dadivoso, misteriosamente protetor da dignidade da vida, como alívio inestimável aos perversos efeitos da seca no NE Setentrional, cujos degraus de quase 200 metros (Eixo Norte) e mais de 500 metros (Eixo Leste) ele só poderá escalar se bombearem suas águas, com a hidro-energia que ele mesmo produz para aquela finalidade e, sem prejudicar a ninguém mas, ao contrário, dando um show de infinita bondade, debruçará 26 metros cúbicos por segundo de suas águas, escorrendo noite e dia por Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, levando a Vida onde só se esperava a morte, e mais: combatendo a migração, erradicando a fome e a sede, prevenindo doenças, protegendo a Natureza e os animais e, até, dando-se ao justo prazer de entrar de novo no seu amado Mar, lá em cima!

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Nota: publicado na Folha de Pernambuco em 17/2/2006

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